segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

ABELHAS EM EXTINÇÃO

{Foto:Greenpeace USA}
Nos últimos anos um problema preocupa países de todo o mundo: o desaparecimento e a morte massiva das abelhas. O sumiço delas é relatado em vários países. Existem 20 mil espécies de abelhas catalogadas, mas um quarto das espécies está sob ameaça de extinção.

O fenômeno ganhou o nome de Distúrbio de Colapso de Colônia (CCD), uma epidemia que pode dizimar uma colônia em poucos dias. Os Estados Unidos é o país mais afetado. De 1940 até hoje, o número de colmeias caiu pela metade. Na Europa, houve um declínio de 50% nos últimos 25 anos. No Brasil, ainda não existem dados para entender com precisão a escala desse declínio.

Além da perda da biodiversidade natural, o desaparecimento das abelhas pode ameaçar a existência de alimentos no futuro, pois colocará em risco a produtividade agrícola. Isso porque muito mais do que produzir mel, esses insetos cumprem um importante serviço ambiental: são agentes polinizadores da natureza, responsáveis pela reprodução e manutenção das plantas e do equilíbrio da biodiversidade.

Pólen e néctar são os principais alimentos das abelhas, que os buscam de flor em flor. A polinização é uma atividade essencial para a reprodução sexuada das plantas e, na sua ausência, a manutenção da variabilidade genética entre os vegetais não ocorre, o que pode causar um desequilíbrio em cadeia.

A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, na sigla em inglês) relata que as abelhas são responsáveis por pelo menos um terço da produção mundial de alimentos - 85% das plantas com flores das matas e florestas e 70% das culturas agrícolas dependem dos polinizadores. No Brasil, elas são responsáveis por 30% da produção.

Abelhas são fundamentais para manter a alta produção e a qualidade de flores e frutos. Alimentos como maçã, melão, café, maracujá, laranja, soja, algodão, caju, uva, limão, cenoura, amêndoas, castanha-do-pará, entre outras dependem do trabalho delas. Os serviços de polinização prestados por esses insetos são avaliados pela FAO em US$ 54 bilhões por ano.

Ainda não existem pesquisas que concluíram os motivos do desaparecimento desses insetos. É provável que o problema seja uma combinação de vários fatores estressantes que debilitam as abelhas e as deixam sem defesa.

É possível que agentes patógenos (vírus, fungos, bactérias) possam afetar algumas espécies. Uma das causas já apontadas é o vírus da asa deformada (conhecido como DWV na sigla em inglês), que tem como vetor o ácaro da espécie Varroa. O vírus pode matar colônias durante o inverno e suas maiores vítimas são as abelhas europeias (Apis mellifera). Na França, a taxa de mortalidade das abelhas triplicou e 100 000 colônias de Apis mellifera foram perdidas desde 1995.

O uso de agrotóxicos nas lavouras também é uma ameaça e enfraquece as colônias. A aplicação de químicos pela técnica de pulverização aérea, por exemplo, atinge a fauna e flora local.

Existem suspeitas que os inseticidas neonicotinoides possam alterar o comportamento das colmeias. Pesquisas indicam que esses produtos intoxicam os sistemas nervoso e digestivo dos insetos, provocando desarranjos em seus sistemas de navegação. Elas demoram a voltar para as colmeias ou não voltam, deixando ela vazia. Em casos mais graves, elas não conseguem se alimentar e morrem por inanição.

Em 2013, a União Europeia baniu o uso dos clotianidina, tiametoxam e imidaclopride, associados à paralisia ou morte de abelhas. No Brasil, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama) já identificou o impacto de inseticidas na apicultura nacional em mortes de colônias.

O desmatamento de áreas naturais próximas às lavouras e a falta de vegetação nativa também altera o equilíbrio preexistente. As abelhas precisam de uma alimentação variada para sobreviver e constroem ninhos em árvores ou no solo. A perda do habitat impacta diretamente a sobrevivência das espécies.

Uma das estratégias do governo norte-americano para proteger as abelhas é promover a conservação de habitats. Recentemente foi aprovada a conservação de um território de 28 000 quilômetros quadrados (o equivalente ao território do Havaí) para as abelhas.

O mais grave é o modelo de plantação de uma única cultura em grande escala, como grandes plantações de soja ou milho. Além de diminuir a biodiversidade da área, esse modelo prejudica as abelhas, pois deixa a sua dieta mais pobre e sem nutrientes ao longo do ano. E quando as plantas não estão florescidas, elas precisam buscar outras fontes.

As mudanças climáticas, causadas pelo aumento da emissão de gases de efeito estufa na atmosfera, colabora para o sumiço das abelhas e para o desequilíbrio do ciclo de florescimento das flores. 

Um estudo publicado pela revista Science em 2015 identificou que abelhas dos Estados Unidos e da Europa estão desaparecendo em algumas regiões por não aguentar as temperaturas mais altas. Elas têm dificuldade de sobreviver em um cenário de aquecimento.


Bibliografia

Polinizadores no Brasil: contribuição e perspectivas para a biodiversidade, uso sustentável, conservação e serviços ambientais. Diversos autores. (Editora Fapesp). 


Ramon Ventura
Carolina Cunha

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